O Novo Sistema
Dom Carlos Duarte Costa
Mensageiro de N. Sra. Menina
Ano III – nº 34, pag. 03 e 04
fevereiro de 1943
...não mais verá mães costurando roupa para os matadores de seus filhos, nem ficar sem pão os plantadores de trigo, nem sem casa para morar, os homens que fazem casas, nem sem remédios as criancinhas enfermas...
Como é lamentável essa série ininterrupta de injustiças sangrentas, de brutalidades cínicas, que vai dos gigantes da Bíblia ao crime do Calvário! Por toda a parte, e incessantemente, o homem mais forte é para o homem mais fraco como o lobo para o cordeiro. E, felizmente, os cordeiros são em maior número na humanidade.
Si as sociedades querem viver e não desejam conduzir-nos, por uma parte, á penúria de homens que aniquilou outrora as nações escravagistas, e por outra as revoltas periódicas dos fracos em que naufraga toda a civilização, é preciso reagir contra este estado de natureza, ôpor barreiras aos apetites, numa palavra, proteger os fracos.
Nesse sentido, no século III, as Constituições Apostólicas exprimem-se assim: “O bispo deve empregar, como convém a um homem de Deus, os dízimos e as primícias que são oferecidas segundo o preceito divino. Deve distribuir equitativamente aos órfãos, às viúvas, aos aflitos e aos estrangeiros sem recursos os bens dados espontaneamente em favor dos pobres; deve contas desta distribuição a Deus, de quem é, neste assunto, delegado; e deve repartir estas ablações com justiça entre todos os que se encontram em necessidade. Tomem os bispos destes bens o que lhes é necessário para o seu sustento; mas não os atribuam só as suas pessoas, repartam-nos com os pobres”.
A sociedade atual está entregue ao capitalismo e á febre do dinheiro.
A Bolsa tornou-se o centro de toda a vida nacional. Abandonou-se o trabalho humilde e paciente. As perspectivas dos ganhos fáceis faz andar á roda todas as cabeças.
O cuidado pelo bem público, que é o próprio fim da vida social, não é a principal preocupação dos nossos homens de Estado e de administração. Têm, como diz o povo, a faca e o queijo na mão; fazem o que querem. Daí, tantas despezas feitas num interesse pesssoal ou num interesse de partido.
É preciso cumular de favores e prover de recursos os parentes, os amigos, os influentes. Todas as caixas públicas estão a sua disposição, as do Estado, do Município, as da Assistência pública. Já não se visa o bem público; a justiça distribuitiva já não preside á administração; apenas domina o interesse privado.
Daí, esses orçamentos sempre crescentes e a rebentar com despezas de pessoal, pensões civis, festas escolares e o resto nem é bom falar, porque são apontados os homens entrados para o governo com a camisa que tinham no corpo, e hoje são arquimilionários. É uma vergonha! Mas eles não tem vergonha, abusando até dos mais humildes servidores da nação! Esta é a verdade nua e crua. E o que se passa nos domínios do estado, lastimamos naqueles que são obrigados a assistir aos humildes, aos fracos, aos enfermos ás viuvas, aos ófãos.
As formas de governo sucedem-se, os erros continuam com abusos ainda maiores.
Procurando prover à proteção ético – jurídica, é que a doutrina diniziana tem tal conteudo humano que a gente, ao examiná-la, fica satisfeita de viver na mesma época de seu criador, e de se acreditar na possibilidade de poder assitir seu momento pragmático, certo de que não mais verá mães costurando roupa para os matadores de seus filhos, nem ficar sem pão os plantadores de trigo, nem sem casa para morar, os homens que fazem casas, nem sem remédios as criancinhas enfermas, nem mulheres injetando tuberculose pelos veios do leite materno, porque a nova era será de homens novos, satisfeitos, felizes, graças á possibilidade de se respeitarem mutuamente e de mutuamente se amarem, quando o ódio for banido do seio da terra e com ele a sua forja - a ganância e o seu cortejo de misérias. Tudo isso porque, no novo sistema, o homem não precisará mais vender o trabalho nem para o capitalista nem para o Estado, visto ter ao seu alcance tudo quanto for justo e necessário para produzir.